Negócios de marketing multinível, que se apresentam nas redes sociais como uma fantástica oportunidade de investimento, estão surgindo e morrendo de forma rápida, causando prejuízos a milhares de consumidores. Alguns conseguem sobreviver apenas seis meses. Outros têm uma trajetória um pouco maior, de até um ano, mas colecionam mudanças nos contratos, revoltando afiliados.
Boa parte dessas companhias é suspeita de ser pirâmide financeira. Algumas nasceram como uma alternativa à TelexFREE, que há um ano foi bloqueada pela Justiça brasileira por suspeita de fraude e que em abril deste ano teve as atividades suspensas nos Estados Unidos.
No YouTube e no Facebook, associados de empresas como BBOM, Paymony e ClickDreams postam vídeos, reclamações e mensagens pedindo explicações para o atraso no pagamento, para o bloqueio de contas e para a demora na entrega de mercadorias.
Entre as empresas acusadas de dar calote milionário nos associados está a Paymony. A rede parou de funcionar depois que donos assumiram ter rompido a sociedade. O negócio operava no Brasil, mas estava registrado em Miami.
Os proprietários pediram a dissolução da empresa, após a Securities and Exchange Commission (SEC) – Comissão de Valores Mobiliário dos Estados Unidos– fechar a Telexfree e a Wings (outra operadora de marketing multinível irregular). No mês passado, o site da Paymony saiu do ar. Na página, há um documento com informações sobre a briga dos sócios.
O presidente da companhia, o ex-líder da Telexfree José Marcus França Bonfim, acusa os sócios dele, Anderson Lima e Rafael Targino, de terem o excluído da companhia. Já a dupla afirma que França foi responsável por desviar milhões de dólares da empresa.
A Paymony era uma empresa de marketing multinível, lançada em dezembro passado, que dizia atuar com a mineração de moeda virtual, no estilo da bitcoin. O negócio prometia bônus de até R$ 25 mil por dia.
Marcus França, em conferência, transmitida pela internet, disse que a moeda da Paymony nunca foi usada e que agora ele iria partir para a mineração da “moeda mãe”, o verdadeiro bitcoin. O negócio será conduzido pela Powermony, com site registrado em 17 de junho.
A Click Dreams, de Blumenau, Santa Catarina, que diz trabalhar com investimentos em imóveis e marketing virtual, está tirando o sono dos investidores. Cerca de 300 pessoas reclamam que suas contas forem bloqueadas sem que pudesse recuperar o que aplicaram.
Também em vídeo, publicado na quinta-feira, no YouTube, o dono da empresa, Leo Malheiros, afirmou que assim que foi aberta em agosto passado, a empresa foi alvo de inquérito, sendo liberada para atuar em janeiro. E disse que não há nada que prove a irregularidade da empresa.
Donos das empresas foram procurados, mas não atenderam a reportagem.
Quebradeira dificulta investigações
Negócios fraudulentos têm se espalhado de forma tão ágil pelo país que autoridades estão com dificuldade de investigar todos os crimes. A maioria das companhias quebra antes até que a polícia e promotores consigam juntar provas para denunciar os envolvidos.
Segundo a promotora de Defesa do Consumidor do Acre, Alessandra Marques, deveria existir um órgão que atuasse como braço da Comissão de Valores Mobiliários, para fiscalizar o setor de marketing multinível. “Não podemos ficar o resto da vida investigando pirâmides”.
Ela explica que a situação fica mais difícil quando os negócios são tocados no Brasil, porém registrados no exterior. “Não há garantia de que a pessoa poderá receber o que aplicou. As pessoas precisam ser mais cuidadosas com seu dinheiro. Ninguém investe em imóvel sem pesquisar sobre a construtora. Também não compra ações de uma empresa que está falindo”.
Fonte: Gazeta Online